Wetlands Construídos
- INCT SbN
- 30 de jun.
- 4 min de leitura

Escrito por Fabielle Martins / Revisado por Pablo H. Sezerino
Wetlands Construídos
Os wetlands construídos (ou áreas úmidas/alagados construídos) são sistemas projetados para replicar as funções ecológicas das áreas úmidas naturais, com o objetivo de purificar a água, tratar efluentes e promover a biodiversidade. Esses sistemas vêm ganhando destaque por sua eficácia no tratamento de águas residuais, no controle da poluição e na conservação ambiental.
Além de representarem uma alternativa sustentável às estações convencionais de tratamento de esgoto (ETEs), também podem ser utilizados de forma complementar a essas estruturas, aumentando a eficiência no tratamento de efluentes.
Panorama Histórico
A origem dos wetlands construídos remonta às décadas de 1950 e 1960, na Europa, especialmente na Alemanha e na Áustria. Nessa época, pesquisadores como Käthe Seidel — considerada pioneira na aplicação da fitotecnologia ao saneamento — iniciaram estudos sistemáticos sobre o uso de áreas úmidas artificiais no tratamento de esgoto doméstico.
Nas décadas de 1970 e 1980, a área se consolidou com as contribuições de especialistas como Kickuth (Alemanha), Hans Brix (Dinamarca) e Jan Vymazal (República Tcheca), que aprofundaram os conhecimentos sobre o papel das macrófitas, a dinâmica de nutrientes e o desempenho de sistemas horizontais e verticais. Universidades como a Universidade de Hamburgo (Alemanha) e a Universidade de Sheffield (Reino Unido) foram fundamentais para a consolidação da engenharia ecológica como disciplina, integrando ecologia, hidráulica e microbiologia.
Nos Estados Unidos, entre as décadas de 1980 e 1990, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) passou a incentivar o uso desses sistemas como estratégia sustentável para o tratamento de águas residuais. Destaca-se o trabalho de Ronald D. Hammer, autor de uma das primeiras grandes sínteses sobre o tema, voltada à prática técnica e à formulação de políticas públicas.
No Brasil, as primeiras experiências com wetlands construídos surgiram no início da década de 1980, lideradas por pesquisadores como Salati e Rodrigues. Durante os anos 1990, o interesse cresceu com a implementação de wetlands horizontais para pequenos aglomerados rurais, destacando-se os trabalhos de Philippi e colaboradores no estado catarinense.
A partir dos anos 2000, os wetlands construídos passaram a ser aplicados em diferentes regiões e contextos brasileiros — de zonas urbanas a rurais — para o tratamento de esgotos domésticos, águas pluviais, efluentes industriais e resíduos provenientes de atividades agrícolas e agroindustriais, como suinocultura e avicultura, sendo o primeiro livro nacional publicado sobre o tema pelos pesquisadores Philippi & Sezerino.
Definição e Características
Wetlands construídos são áreas especialmente projetadas para simular as condições ecológicas de áreas úmidas naturais, com o propósito de tratar águas residuais, reduzir impactos ambientais e oferecer benefícios ecológicos. Podem ser utilizados para tratar esgotos domésticos, efluentes industriais, águas pluviais e também para reabilitar áreas contaminadas.
Tipos de Wetlands Construídos
A classificação dos wetlands construídos baseia-se no modo como a água circula no sistema. Os principais tipos são:
1. Wetlands Subsuperficiais Verticais
A água residuária a ser tratada percola verticalmente através de camadas de substrato, onde ocorre a remoção de poluentes por processos físicos, químicos e biológicos.
WC Vertical Descendente (WCvd): O esgoto atravessa um meio não saturado, favorecendo a oxidação da matéria orgânica e a nitrificação.
WC Vertical com Fundo Saturado (WCv-FS): Integra processos aeróbios e anaeróbios, otimizando a remoção de nitrogênio.

2. Wetlands Subsuperficiais Horizontais
A água residuária a ser tratada flui horizontalmente através de um leito saturado com vegetação, promovendo principalmente processos anaeróbios, como a desnitrificação.
WC Horizontal Subsuperficial (WCH): O esgoto passa horizontalmente por um substrato saturado com plantas emergentes.

3. Sistemas Híbridos
Combinam as características dos sistemas verticais e horizontais, oferecendo maior flexibilidade e eficiência no tratamento de diferentes tipos de efluentes e em distintas condições ambientais.

Benefícios dos Wetlands Construídos
Eficiência no Tratamento de Efluentes: Removem eficientemente matéria orgânica e promovem transformações de nutrientes como nitrogênio. Apresentam potencialidades de retenção de metais pesados junto ao maciço filtrante.
Valorização da Biodiversidade: Criam habitats para aves, peixes, insetos e outras espécies, promovendo a diversidade ecológica local.
Mitigação de Impactos Ambientais: Reduzem a carga poluente em corpos hídricos, minimizam o risco de contaminação e ajudam a restaurar ecossistemas degradados.
Sustentabilidade Urbana e Rural: Contribuem para o controle de enchentes, a redução da erosão e a melhoria do microclima urbano, além de proporcionarem espaços verdes integrados à paisagem.
Redução de Custos Operacionais: Exigem menos energia, produtos químicos e manutenção do que sistemas convencionais, resultando em economia a longo prazo.
Versatilidade de Aplicação: Podem ser implantados tanto em comunidades rurais quanto em centros urbanos densamente povoados.
Considerações Finais
Os wetlands construídos são Soluções baseadas na Natureza (SbN) altamente eficazes no tratamento de efluentes e na promoção da sustentabilidade ambiental. Sua adoção em áreas urbanas e industriais representa uma estratégia promissora para enfrentar os desafios da urbanização, da escassez de água e das mudanças climáticas.
Além de tratarem distintas águas residuárias, esses sistemas ajudam a criar ambientes mais equilibrados, verdes e integrados com a natureza, oferecendo múltiplos benefícios sociais, ecológicos e econômicos. Incentivar sua pesquisa, difusão e implementação é essencial para garantir um futuro mais sustentável e resiliente.
Referências
SEZERINO, P. H.; BENTO, A. P.; DECEZARO, S. T.; Magri, M. E.; PHILIPPI, L. S. Experiências brasileiras com wetlands construídos aplicados ao tratamento de águas residuárias: parâmetros de projeto para sistemas horizontais. Engenharia Sanitária e Ambiental, v.20, n.1, jan-mar, p 151 – 158. 2015.
SEZERINO, P.H., ROUSSO, B. Z., PELISSARI, C., SANTOS, M, O., FREITAS, M. N., FECHINE, V. Y., LOPES, A. M. B, Wetlands construídos aplicados no tratamento de esgoto sanitário: recomendações para implantação e boas práticas de operação e manutenção / Ministério da saúde, Fundação Nacional de Saúde – Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2018.
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